Melhor Professor do Mundo Melhorando a Ciência
Peter Tabichi: Educação começa quando o professor acredita no aluno
Em uma turnê mundial após a conquista do prêmio Global Teacher Prize no último mês de março, o professor queniano Peter Tabichi participou na última quinta-feira (4) de um debate com a professora brasileira Débora Garofalo, também finalista na mesma premiação, promovido pela Fundação Lemann e pela Associação NOVA ESCOLA em São Paulo (SP). Em sua fala, o professor de ciências lembrou que a aprendizagem acontece quando o professor se preocupa primeiro em trabalhar a autoestima do aluno.
“Como professor, você precisa ter disposição para encarar desafios e não pode achar que vai entrar na sala de aula e todos os alunos estão dispostos e motivados”, disse. “Tudo é uma questão de acreditar e ter confiança nos seus alunos. Assim, eles vão conseguir encarar desafios e conquistar mais”, explicou ao exemplificar o método centrado no aluno que adota em suas aulas. Tabichi diz evitar aulas expositivas e ajuda as crianças a criar inovação a partir de suas próprias ideias. “A gente define metas em conjunto e eles sabem que estarei ao seu lado”.
E assim, mesmo sem as instalações ideais na Escola Secundária Keriko Mixed Day, localizada em uma área remota do Quênia, Tabichi trabalha para mudar a vida de seus alunos, “sem esperar política pública ou a chance de se tornar diretor”. Cerca de 95% de seus alunos são provenientes de famílias pobres, quase um terço são órfãos ou têm apenas um dos pais, sendo que muitos não têm comida em casa. São comuns os casos de abuso de drogas, gravidez na adolescência, evasão escolar, casamentos entre jovens e suicídio.
Trata-se de uma história guarda muitos pontos em comum com a dos alunos da professora Débora que, além de viver em uma realidade social muito dura, inicialmente achavam que robótica não era feita para eles – e sim para estudantes de escolas particulares. “Foi um processo muito desafiador não só como professora, mas principalmente como ser humano. Temos que esquecer um pouco esse contrato pedagógico e olhar para as pessoas que dependem muito de nós e da nossa inspiração”, avaliou a professora que ficou entre os 10 finalistas do Global Teacher Prize. “O engajamento veio a partir do momento que eles se sentiram capazes e começaram a ver o potencial de construção que tinham nas mãos”.
Habilidades socioemocionais
Para tratar de temas socioemocionais e promover a integração de suas turmas, Tabichi diz que o desenvolvimento de projetos organizados por clubes desempenha um papel importante na escola Keriko. “Na minha escola, o clube da paz tem atividades em que alunos plantam árvores, cantam juntos e fazem atividades esportivas. Eles precisam aprender a trabalhar em equipe e também a valorizar, reconhecer e respeitar uns aos outros. Nos projetos científicos, aprendem isso ao longo do processo de troca de ideias, em que um fala uma coisa e outro fala outra e as sugestões precisam ser respeitadas”, disse.
Como é possível imaginar, desenvolver habilidades demanda que Tabichi tenha que diversificar as metodologias adotadas durante a aula. “Fazer uma palestra sobre valores não dá muito certo. Quando você deixa os meninos participarem das atividades, aí sim permite que eles desenvolvam habilidades socioemocionais. Dá para perceber facilmente pela observação e não é necessário fazer prova”.
A escola do futuro
Ao responder uma pergunta sobre a escola que queremos para o futuro, Débora mencionou a importância de componentes curriculares como o projeto de vida, para que a aprendizagem se conecte à realidade do aluno e evite os altos índices de evasão registrados no Brasil, especialmente no ensino médio. “Precisamos encantar os meninos para colocá-los no século 21”.
Em nome de uma formação mais holística, Tabichi, que é frei franciscano, afirma que escolas também devem se preocupar em criar uma rota espiritual. “Os alunos também precisam entender por que nascemos e por que vivemos em busca de um propósito maior”.
Impacto do Global Teacher Prize
Segundo o professor queniano, a conquista do troféu Global Teacher Prize teve impacto positivo não só em sua aula e escola, mas em toda a comunidade. “Muita coisa mudou. Eu conheci muita gente que valoriza e agradece o trabalho que eu faço. Já fui convidado a participar de vários fóruns e oficinas com professores e outros profissionais porque essas pessoas também se sentiram inspiradas pelo prêmio que recebi”, disse.
“Os alunos têm estudado ainda mais e demonstram orgulho pelo fato de um professor deles ter sido reconhecido em nível internacional. O ambiente mudou não só na minha escola, como também naquelas que ficam próximas. O momento é maravilhoso para a nossa comunidade”.
Uma amostra desse ciclo virtuoso pode ser notado no último mês de maio. Um projeto feito por duas alunas de Tabichi para ensinar matemática para pessoas com deficiência visual e auditiva conquistou medalha de ouro no ISEF (sigla em inglês para Feira Internacional de Ciências e Engenharia), evento realizado nos Estados Unidos que conta com a participação de 1.800 estudantes de todo o mundo.
Quem é o queniano eleito o 'melhor professor do mundo'
Um professor de ciências que dá a maior parte de seu salário para apoiar alunos pobres ganha o Prêmio Global de Professores.
Queniano Peter Tabichi foi escolhido o melhor professor do ano pelo Global Teacher Prize. — Foto: Fabricio Vitorino
Um professor de ciências da zona rural do Quênia, que doa a maior parte de seu salário para apoiar os alunos mais pobres, ganhou um prêmio de US$ 1 milhão (R$ 3,9 milhões) ao ser eleito o melhor professor do mundo.
Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o Global Teacher Prize de 2019, conferido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.
Tabichi foi elogiado por suas realizações em uma escola sem infraestrutura, em meio a classes lotadas e poucos livros didáticos.
Ele quer que os alunos vejam "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.
O prêmio, anunciado em uma cerimônia em Dubai, reconhece o compromisso "excepcional" do professor com os alunos em uma parte remota do Vale do Rift, no Quênia.
Ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam pagar por seus uniformes ou material escolar.
Melhorando a ciência
"Nem tudo é sobre dinheiro", diz Tabichi, cujos alunos são quase todos de famílias bem pobres. Muitos são órfãos ou perderam um dos pais.
Seu objetivo é que os estudantes tenham grandes ambições, além de promover a ciência, não apenas no Quênia, mas em toda a África, diz.
Ele venceu entre outros dez mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, que ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo.
Mas Tabichi diz que enfrenta "desafios com as instalações precárias" de sua escola, inclusive com a falta de livros ou professores.
"A escola fica em uma área muito retoma. A maioria dos estudantes vêm de famílias muito pobres. Até pagar o café da manha é difícil. Eles não conseguem se concentrar, porque não se alimentaram o suficiente em casa", contou em entrevista publicada no site do prêmio.
As classes deveriam a ter entre 35 e 40 alunos, mas ele acaba ensinando grupos de 70 ou 80 estudantes, o que, segundo o professor, deixa as salas superlotadas.
A falta de uma boa conexão de internet faz com que ele vá até um café para baixar os materiais necessários para suas aulas de ciências. E muitos dos seus alunos andam mais de 6km em estradas ruins para chegar à escola.
No entanto, Tabichi diz que está determinado a dar aos alunos uma chance de aprender sobre ciência e ampliar seus horizontes.
Seus estudantes foram bem sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido.
Fora da sala de aula
Tabichi diz que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola.
Ele tenta mudar a mentalidade de pais que esperam que suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as meninas continuarem seus estudos.
O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.
"Insegurança alimentar é um grande problema, então ensinar novos jeitos de plantar é uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey.
Além do contato com as famílias, a atuação de Tabich se estende aos "clubes da paz" que ele organiza na escola, para representar e unir as sete tribos presentes ali. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.
"Para ser um grande professor você tem que ser criativo e abraçar a tecnologia. Você realmente tem que abraçar essas formas modernas de ensino. Você tem que fazer mais e falar menos", ele disse à fundação.
O prêmio
O prêmio conferido a ele busca elevar o status da profissão de docente. O vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres, Andria Zafirakou.
O fundador da premiação, Sunny Varkey, diz esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quênia e em todo o mundo, diariamente".
"As milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme impacto que eles têm em as nossas vidas", diz.
Professor queniano de escola rural vence o ‘Nobel da Educação’ de 2019
Saiba mais sobre a trajetória de Peter Tabichi, que ensina matemática e física em uma escola com 1 computador para cada 58 alunos; Brasileira é top 10
por Vinícius de Oliveira 24 de março de 2019
Peter Tabichi, professor de matemática e física na escola rural de ensino fundamental Keriko Secondary School, em Nakuru, no Quênia, foi o vencedor do Global Teacher Prize, o “Nobel da Educação”, e leva o prêmio de US$ 1 milhão concedido pela Varkey Foundation. O anúncio foi feito neste domingo (24) durante o Global Education and Skills Forum, o Fórum Mundial de Educação e Competências (em tradução livre), que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A professora brasileira Débora Garofalo ficou entre os 10 finalistas.
A educação está no sangue de Tabichi, de 36 anos. Filho de pai professor e com primos que também seguem a profissão, ele usa tecnologia para ensinar em uma escola com baixíssima conectividade (um computador para cada 58 alunos). Seus alunos precisam caminhar 7 km por estradas acidentadas para assistir às aulas.
Veja o momento em que o ator Hugh Jackman anuncia o vencedor do Global Teacher Prize 2019
“Todos os dias na África viramos uma nova página e um novo capítulo. Hoje é outro dia. Este prêmio não reconhece só a mim, mas reconhece os jovens deste grande continente”, disse o professor ao receber o troféu dourado. “Só estou aqui por conta de tudo o que meus alunos conquistaram”
“Como professor que atua em sala de aula, vejo a curiosidade, o talento, a inteligência e a perseverança. Os jovens de África deixarão de ficar para trás por conta de baixas expectativas. A África produzirá cientistas, engenheiros e empreendedores cujos nomes serão um dia famosos em todos os cantos do mundo. E as meninas serão uma grande parte dessa história”.
“Acredito que a ciência e a tecnologia podem desempenhar um papel de liderança no desbloqueio do potencial da África. Todos sabemos que as descobertas científicas e as inovações estimulam o progresso, facilitam o desenvolvimento e podem resolver questões como insegurança alimentar, escassez de água e mudança climática. É de manhã na África. O céu está claro. É um novo dia e há uma página em branco esperando para ser escrita. Esta é a vez da África”.
Da mesma maneira que professores vencedores nas edições anteriores do Global Teacher Prize, Tabichi é mais que um educador em sala de aula. Ele doa 80% de seu salário para os menos favorecidos. Antes de embarcar a Dubai, o professor declarou que sonhava ganhar o prêmio para ampliar iniciativas como o clube de ciências, além de fomentar competições e montar um laboratório de informática com conectividade na escola.
Contexto
A região onde o professor Peter atua é muito pobre. Habitantes de Nakuru sofrem com a seca e a fome. Cerca de 95% dos alunos são oriundos de baixa renda, quase um terço são órfãos ou têm apenas um dos pais, sendo que muitos não têm comida em casa. São comuns os casos de abuso de drogas, gravidez na adolescência, evasão escolar, casamentos entre jovens e suicídio.
Assista ao vídeo sobre o trabalho do professor Peter Tabichi
Superação
Tabichi lançou um clube de formação de talentos e expandiu o clube de ciências da escola, ajudando os alunos a desenvolver projetos de pesquisa de tal maneira que, atualmente, 60% se classificaram para competições nacionais. Peter também orientou seus alunos a participar da Feira de Ciências e Engenharia do Quênia, em 2018 – onde eles apresentaram um dispositivo que inventaram para permitir que pessoas cegas e surdas consigam medir objetos. O esforço deu resultado e Peter viu a sua escola da aldeia alcançar o primeiro lugar nacional na categoria de escolas públicas. A equipe de ciências matemáticas também se qualificou para participar da edição de 2019 da Feira Internacional de Ciências e Engenharia promovida pela INTEL, no Arizona, nos Estados Unidos, para a qual eles estão atualmente se preparando. Seus alunos também ganharam um prêmio da entidade de pesquisa britânica Royal Society of Chemistry por aproveitarem plantas locais para gerar eletricidade.
Preocupação com todos
O professor Tabichi e quatro colegas também oferecem aos alunos de baixo rendimento aulas particulares de matemática e ciências no contraturno e durante os finais de semana. Neste caso, o professor vai até a casa dos estudantes e conhece suas famílias para identificar as dificuldades que eles enfrentam. Apesar de lecionar em uma escola com apenas um computador desktop com uma conexão intermitente, Tabichi costuma usar tecnologia na maior parte de suas aulas para engajar os alunos. Para superar a baixa conectividade, ele vai até cybercafés e baixa o conteúdo para usar em aula no modo off-line.
Ao fazer seus alunos acreditarem em si mesmos, Tabichi melhorou drasticamente o desempenho e a autoestima de seus alunos. O número de matrículas dobrou para 400 em três anos, e os casos de indisciplina caíram de 30 por semana para apenas três. Em 2017, apenas 16 dos 59 alunos ingressaram em faculdades, enquanto que, em 2018, esse número subiu e 26 alunos foram para universidades e faculdades. O desempenho das meninas, em particular, foi impulsionado e fez com que elas superassem meninos em quatro provas realizadas no ano passado.
Brasileira no TOP 10
Pela terceira vez consecutiva o Brasil teve representante entre os 10 melhores. A professora brasileira Débora Garofalo, que leciona matérias de tecnologia e robótica na EMEF Almirante Ary Parreiras, em São Paulo (SP), ficou perto de levantar o trofeu.
Ao longo dos três dias do congresso, os professores finalistas são convidados a apresentar uma aula de demonstração. Veja como foi a apresentação de Débora
Em suas aulas com estudantes de 6 a 14 anos, a professora usa material de sucata e busca fomentar o protagonismo do aluno a partir da aprendizagem criativa, das experiências e conhecimentos prévios dos alunos e do uso reflexivo das tecnologias.
Uma mostra deste trabalho pode ser encontrada no relato que a professora Débora Garófalo enviou ao Porvir em 2016 e foi publicado na seção Diário de Inovações. “Quando assumi a sala de informática, os alunos só queriam jogar, mas com o passar do tempo, mostrei pra eles que o laboratório tem outras finalidades, e que o computador não é um instrumento final, mas faz parte do processo”, contou a professora.
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